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terça-feira, 30 de junho de 2009

AntiAIDS Vira Droga “Recreativa”

Que a combinação ecstasy e Viagra vem sendo usada para garantir o “barato” da noite, não é novidade. Já remédios antiHIV, como o Truvada, sendo inserido nessa combinação é uma novidade que deixa até os mais liberais boquiabertos. O ecstasy é administrado para garantir a alucinação da noite, o estimulante sexual é para aumentar a libido sexual, o mesmo dá uma falsa sensação de aumento da libido, mas o que acontece é o contrário, e o antiHIV e para se prevenir do contagio ao vírus devido a prática de bareback - sexo sem camisinha - entre os usuário de drogas e até mesmo por eles saberem que não terão discernimento de usarem camisinha em meio a “brisa” que está por vir.

O iPrex (Iniciativa Profilaxia Pré-Exposição), vem realizando uma pesquisa que tem por objetivo traçar a eficiência do Truvada em pessoas soronegativas. O remédio tem se mostrado eficiente no combate ao HIV, porém, as conseqüências que o mesmo pode trazer sendo administrado em longo prazo, são desconhecidas. Recentemente o iPrex me considerou inelegível para a participação desta pesquisa, a justificativa foi o baixo numero de parceiros sexuais que tenho. Isso me levou a acreditar que o Truvada não garante em 100% a prevenção ao vírus HIV e seria antiético por parte do iPrex declararem sua predileção por indivíduos mais vulneráveis ao vírus para assim analisarem a eficiência do mesmo ao combate do vírus.

Existem aproximadamente 600 mil pessoas infectadas com o vírus HIV no Brasil, todas elas, estão sendo assistidas pelo programa nacional e gratuito do Ministério da Saúde. do Governo Federal Aqueles que estão em fase mais debilitada de saúde, com a carga viral da doença alta, recebem gratuitamente uma combinação de antirretrovirais, elaborados individualmente para cada paciente. Além da fonte oficial para aquisição do remédio, que é o serviço público de saúde, as drogas AntiAIDS também são encontradas em clubes e festas noturnas. Os infectologistas se preocupam com o caso e afirmam que essa combinação é uma bomba para o coração.

No final de 2008, foi denunciado que na África do Sul jovens estão combinando remédios AntiAIDS com analgésico e/ou maconha, a combinação potencializa o efeito relaxante das drogas associadas. O remédio é triturado até virar pó e misturado com as outras drogas. Os próprios pacientes que ministram os medicamentos já foram flagrados fumando os antirretrovirais. Uma situação critica num dos países onde 5,2 milhões de pessoas estão infectadas como vírus HIV.

segunda-feira, 29 de junho de 2009

Momentos Agradabilíssimos

Participei de um jantarzinho super agradável na casa do Douglas. A curtição começou pela tarde, quando fomos (o Douglas, a prima dela, a mãe dele e eu) ao mercado comprar algumas coisas para a ocasião. Pena que durante as compras houve um pequeno stress: o Douglas recebeu uma ligação de que uma pessoa estava indo para a casa dele sem ser convidada para o jantar, e o pior, a criatura, além de não ser convidada, convidou mais algumas pessoas. Para resolvermos o problema, delicadamente informamos ao pessoal que adoraríamos recebemos, só que numa outra oportunidade.

Não entendo como as pessoas conseguem ser tão invasivas. É complicado ir à casa de alguém sem avisar, pois, podemos estar comprometidas com outros eventos que não cabem determinados convidados ou até mesmo discutindo a relação, fazendo sexo ou simplesmente mergulhados numa deprê e a fim de curtir esse momento e não falar com ninguém. Existem depressões que são revigorantes e necessárias para nossas vidas e esse precioso momento de auto-analise, pode ser atrapalhado por uma visita inesperada e nada agradável.

Resolvido esse delicado problema, o Douglas e a prima dele deram andamento os preparativos do jantarzinho. Sim, tudo foi preparado pelos dois, confesso que fiquei surpreso com tamanho bom gosto e delicadeza nos detalhes. O prato principal foi panqueca três queijos com molho de tomate e molho três queijos, além disso, tínhamos bruschetta, arroz, carne assada, pastel com molho rose e molho de azeitonas pretas, salada de maionese, sucos, refrigerantes, água aromatizada naturalmente com hortelã e sobremesas, brigadeirão, pudim de maria mole e salada de frutas. A panqueca estava uma delicia, o molho três queijos ressaltou um gostinho de alho maravilhoso, enfim, foi uma noite agradável e divertida. Os familiares do Douglas sabem receber bem seus convidados.

Para o próximo domingo, fui convidado para um almoço na casa da tia do Douglas. Será servido puchero, um prato espanhol, podemos dizer que é uma espécie de feijoada espanhola. Teremos duas versões do prato, uma versão completa, com todas as carnes, embutidos e legumes e outras apenas com legumes e embutidos para quem não gosta de toda a variedade de carnes que o prato propõe. Tenho certeza que ótimos momentos que tivemos na noite de sábado, se repetiram na tarde de domingo.

domingo, 28 de junho de 2009

28 de JUNHO de 2009 – Dia do Orgulho LGBT

No mundo inteiro, tradicionalmente celebra-se o chamado Dia do Orgulho de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais (LGBT) no dia 28 de junho. A significância do Dia 28 de Junho é que marca o início do movimento moderno LGBT em prol da liberdade de expressão e igualdade de direitos deste segmento da população.

Em 28 de junho de 1969, ocorreu, na cidade de Nova York, o que veio a ser conhecido como a Rebelião de Stonewall. Stonewall era (e ainda é) um bar de frequência LGBT que sofria repetidas batidas policiais sem justificativa. Naquele dia, os frequentadores se revoltaram contra a polícia e o tumulto que se seguiu durou três dias, mudando para sempre as atitudes repressivas das autoridades perante as pessoas LGBT e dando início à luta pela igualdade de direitos de LGBT.

Todo ano desde então esta data é celebrada por meio de paradas e outros eventos culturais, numa expressão de orgulho - e não de vergonha - de assumir publicamente a orientação sexual e identidade de gênero LGBT. No Brasil as Paradas do Orgulho LGBT começaram a se tornar um importante momento de expressão e visibilidade desta população a partir de 1995.

Realizadas inicialmente apenas nas grandes capitais, com crescente participação a cada ano, em 2008 chegamos a ter pelo menos 178 paradas em todo o País, inclusive em muitas cidades do interior. A Parada de São Paulo de 2009 participação com estimadas 3,1 milhões de pessoas na Avenida Paulista e na Rua da Consolação, tornando-se a maior parada do orgulho LGBT do mundo.

sábado, 27 de junho de 2009

Comemorando Stonewall

Amanhã, dia 28/06, ocorrerão 8 Paradas do Orgulho LGBT no Brasil. A ocorrência desse fenômeno se deve ao fato do Movimento Gay Contemporâneo ter sofrido grande influência com a data. No dia 28 de junho de 1979, gays cansados de serem humilhados por policiais na cidade de Nova York se rebelaram e enfrentaram os policiais. A batalha durou 3 noites e o episódio ficou conhecido como o levante de "Stonewall", nome do um bar onde frequentemente ocorriam as batidas policiais e de onde partiu a rebelião.

No ano seguinte, no dia 28 de junho de 70, Nova York viu sua primeira Parada Gay, para lembrar o levante do ano anterior. As Paradas foram se espalhando pelo mundo e chegaram ao Brasil no fim dos anos 90 e hoje, temos em São Paulo, a maior celebração do Orgulho Gay com uma concentração que conta com mais de 3 milhões de pessoas.

Confira as Paradas que ocorrerão nesse domingo e participe:

  • Alfenas (MG) - VI Parada do Orgulho LGBTT do Sul de Minas - às 14 horas na Praça da Matriz "A gente merece o respeito do país, afinal no arco-íris também tem verde e amarelo" www.mga.org.br
  • Guarulhos (SP) - 4ª edição da Parada do Orgulho Gay Guarulhos - Movimento em Defesa da Livre Orientação Sexual - Poupa Tempo da Avenida Tancredo Neves às 14 horas.
  • Ribeirão Preto (SP) - 5ª Parada Gay de Ribeirão Preto.
  • Campinas (SP) - 9ª Parada do Orgulho LGTTB de Campinas - Largo do Pará - Praça na avenida Francisco Glicério
  • Palmas (TO) - VI Parada do Orgulho LGBT de Palmas - às 14 horas com concentração no Parque Cesamar.
  • Fortaleza (CE) - X Parada pela Diversidade Sexual do Ceará - (Av. Beira Mar) - às 14 horas.

sexta-feira, 26 de junho de 2009

Morte e Vida Severina: Análise da História Numa Perspectiva Social

Morte e Vida Severina é um texto de histórias simples e significados profundos. O protagonista é um retirante, um nordestino de vinte anos que foge da seca e da vida sofrida e miserável do Sertão e que, caminhando às margens do rio Capibaribe em direção a cidade do Recife, tem a esperança de encontrar vida melhor.

Na primeira parte do poema o retirante se apresenta. Trata-se de “Severino da Maria do Zacarias, lá da serra da Costela, limites da Paraíba”. Não é por acaso que o escritor escolheu esse nome, já que é muito comum no Sertão nordestino. Milhares de nordestinos partilham o protagonista seu nome, assim como sua miséria e seu sofrimento. Portanto, o que parece ser uma tentativa de particularizar quem é o protagonista na verdade faz o contrário. Ao se apresentar, Severino encarna todos os retirantes do Sertão, “iguais em tudo na vida” e na perspectiva constante do mesmo tipo de “morte severina: que é a morte de que se morre de velhice antes dos trinta, de emboscada antes dos vinte, de fome um pouco por dia”. E viver a “vida severina”, tendo como perspectiva não mais que a morte, é a “sina” que une todos os nordestinos que, vivendo no árido Sertão, trabalham duramente para “abrandar estas pedras suando-se muito em cima” e “tentar despertar terra sempre mais extinta”. Sem apoio suficiente do Estado, submetidos ao domínio, à violência e à exploração dos coronéis do Sertão, sem meios de produzir para sua subsistência, estes severinos vêem-se obrigados a emigrar de suas terras ou moradias para as cidades.

Na segunda parte o retirante encontra dois homens que carregam um defunto. Vítima de uma das formas de “morte severina” citadas na primeira parte, este agricultor, “Severino Lavrador”, morreu de emboscada por causa de uma disputa de terras. O diálogo de Severino com os dois “irmãos das almas” revela o motivo: aquele lavrador morreu por causa da cobiça de outro que desejava se apoderar de seus “hectares de terra” “que não dá nem planta brava” mas onde ele “plantava palha”. Os interlocutores parecem não mais se indignar com a injustiça que ocorre, pois é uma situação contra a qual os severinos do Nordeste não tem como lutar. Afinal, “o que é que acontecerá contra a espingarda” e o assassino? Simplesmente terá “mais campo”. Interessante verificar que ao se falar da bala que mata em invés da identidade do assassino (que parece ser conhecida pelos que carregam o corpo) vê-se no acontecimento algo comum para a vida naquela região. Com efeito as personagens não demonstram a indignação que as poderia levar a lutar contra tal injustiça.

A terceira parte nos monstra um aspecto interessante da cultura no Sertão nordestino: a religiosidade que permeia sua imaginação. O caminho de Severino é marginal ao rio Capibaribe que, por causa da seca, está fino e, em alguns pontos, seco. A sucessão de pequenos arruados cortados pelo fino rio, que vez ou outra encontra uma vila maior, parece ao Severino as contas de um rosário, objeto popular de devoção católica. E o andar do retirante através de uma paisagem monótona e estafante, só suportável pela esperança de alcançar uma vida melhor ao final, lhe é percebido como a reza de uma ladainha ou de um “rosário até o mar onde termina”. A religiosidade que notamos no texto não é uma religiosidade particular do retirante, algo que este ofereça espontaneamente para Deus como forma de devoção, mas uma carga que deve suportar, uma penitência que deve realizar para obter sua redenção. A prática da reza do rosário, tal como a da ladainha, é uma devoção aprendida e realizada socialmente e só pode ser entendida no contexto cultural do devoto. Quando Severino reza seu rosário do retirante o faz com todos os outros retirantes que fogem da “morte severina” em busca de uma vida melhor. Na vida do nordestino severino as peregrinações, as rezas de rosário e as missas se misturam com a crença em benzedeiras, em festas religiosas e em advinhas e lhe dão toda uma forma de ver e entender seu mundo.

Na quarta parte, Severino retirante mais uma vez se depara com a morte. Num local onde esta é sempre tão presente também a religiosidade permeia as tradições populares e trás conformação para os que ainda vivem e significado para os sofrimentos. Mas, ao tempo que a maioria das personagens se conforma, alguém de fora da casa ironiza as excelências (rezas em forma de canto pelas quais o defunto é oferecido à vida após a morte). Como poderia o finado levar para o além aquilo que talvez nunca possuiu no mundo da “vida severina”? Mesmo o caixão que carrega o finado não lhe pertence, não poderia ter comprado em vida, e certamente a “cera, capuz e cordão”, além da imagem da “Virgem da Conceição”, são coisas que lhe custariam grande dificuldade para adquirir. Novamente vemos aqui temos a referência a uma peregrinação. As excelências lembram da cera e cordão para a vela, da imagem da Virgem para a procissão e assim o finado poderá se juntar a tantos outros defuntos que sofrem a “morte severina”, retirantes desta vida para o além. Mas as únicas coisas que esses retirantes realmente possuem e poderiam levar a qualquer lugar, mesmo para o mundo do além, são as “coisas de não: fome, sede, privação”.

O calor, a seca e a falta de comida e de abrigo submete o retirante a um sofrimento intenso durante sua jornada. Entretanto, o nordestino do Agreste e da Caatinga conta com pouca ou nenhuma assistência do Estado e de organizações em geral para sobreviver, o que o leva a decidir enfrentar esse caminho e emigrar. Mas preferiria permanecer em seu local de nascimento e subsistir de sua lavoura ou, tendo saído de sua terra, “achar um trabalho de que viva”. Na quinta parte do poema Severino, cansado, pensa que, se o rio em alguns momentos pára, poderia também ele parar seu caminho e tentar permanecer. Entretanto, o que faz “o Capibaribe interromper sua linha” é a seca. E a consequência da seca é a escassez e a morte, elementos sempre presentes por todo o caminho de Severino. É a morte “ativa”, às vezes até “festiva” (quando cantada na religiosidade popular). Onde quer que se encontre água no Sertão nunca será suficiente para a população que a divide com a parte que é “consumida pelas roças, pelos bichos, pelo sol com suas línguas”.

Numa terra em que o clima não favorece o pequeno e médio lavrador a agricultura não é capaz de prosperar sem ajuda do poder público e dos bancos. Dada a omissão destes para a pequena e média propriedade, o resultado nas cidades do Sertão é a falta de emprego e a escassez. A “vida severina” é uma vida de privações e de miséria, tanto no campo como nas cidades. Com a exceção dos grandes proprietários de terras, que têm acesso a recursos financeiros e materiais suficientes para fazer a terra árida a produzir, a grande massa da população está submetida a essa situação. Na sexta parte do poema o retirante descobre que não encontrará trabalho naquela ou qualquer outra cidade do Sertão. Ninguém dará emprego para um retirante que não sabe mais que lavrar “terra má” e plantar “o algodão, a mamona, a pita, o milho” ou qualquer outro produto do modo que aprendeu a fazer, ou seja, no estilo do “roçado”. Somente os grandes proprietários de terra (dentre estes também aquele tipo de proprietário que buscou com sua “ave-bala” obter “mais campo” para “fazer voar as filhas-bala” e ampliar seu latifúndio) são capazes de mecanizar suas plantações e fazer uso de técnicas modernas de irrigação e tratamento do solo. Sem apoio, o médio produtor não é capaz de concorrer com o grande, pois este conta com maior produtividade, menores custos e apoio dos bancos (para não falar das condições excepcionais que não raro os grandes produtores conseguem obter dos bancos públicos).

A consequência disso é que os severinos do Sertão, se de um lado se vêem obrigados a abandonar suas terras em busca de sobrevivência na Zona da Mata ou em cidades grandes do litoral, deixando suas terras para os grandes proprietários, por outro lado não conseguem trabalho pois não têm nenhuma qualificação ou educação para os tipos de emprego que são oferecidos nos locais para onde migram. Em suas terras de origem “ninguém aprendeu outro ofício, ou aprenderá”. A “vida severina” os acompanham para onde quer que se retirem. Mas esta parte sexta do poema também apresenta um tipo de personagem que não é grande proprietário de terras, não se pode dizer que seja rico, mas consegue sobreviver explorando uma realidade muito presente no Sertão nordestino. A mulher com que o retirante-protagonista dialoga explica que como lá “a morte é tanta” ela vive “de a morte ajudar”. As profissões que se relacionam com a miséria, a doença e a morte são fonte de renda num local onde “só é possível trabalhar nessas profissões que fazem da morte ofício ou bazar”. Mas mesmo esses ofícios são vedados aos severinos retirantes. Para serem médicos ou farmacêuticos precisariam de acesso à educação e ensino superior. E para serem benzedeiras, curandeiros ou rezadeiras, verdadeiros oficiantes da religiosidade popular, reconhecidos a ponto de vir gente “de um raio de muitas léguas” lhes chamar, precisariam de entendimento em artes mágicas e rezas ensinado a poucos. Não só para os latifundiários, mas também a esse tipo de classe média, as mortes “dão lucro imediato; nem é preciso esperar pela colheita: recebe-se na hora mesma de semear” o caixão no solo.

Um lampejo de esperança, um breve sonho de alívio toma o retirante na parte sete do poema quando chega à Zona da Mata. Depois de longa jornada por terras áridas o protagonista encontra um solo mais fértil, um clima mais úmido, onde os rios perenes têm “água vitalícia” e a terra, ao contrário da encontrada na Caatinga, é “fácil amansar” por ser “doce” e “tão feminina”. Para o retirante acostumado com a Caatinga de solo pedregoso e vegetação ressequida a Zona da Mata lhe parece a chance de uma vida melhor. É lá que então ele deseja plantar “sua sina”, seu destino. Mas não há lugar para ele na Zona da Mata. Nem para nenhum outro severino retirante. A Zona da Mata está tomada pelas imensas plantações onde não se avista “ninguém, só folhas de cana fina” e algumas usinas. O protagonista está pensando em se estabelecer nessa terra que parece o paraíso, o fim de seu “rosário”, mas está iludido. Os grandes usineiros de álcool e cana dominam toda a região que, ao invés de servir para o assentamento de pequenos produtores rurais e suas famílias, estão nas mãos de poucos proprietários. E o trabalho oferecido é pouco e perigoso por expor o trabalhador a riscos de mutilação durante as colheitas.

Na parte oitava do auto, o diálogo entre pessoas em um enterro desfaz a ilusão. O texto que se segue, imortalizado na voz de Chico Buarque de Holanda (na música “Funeral de um lavrador” de 1969), ironiza o trabalhador defunto que sonhou com justiça no campo com uma divisão de terras que resolvesse a miséria de sua “vida severina”. A terra que cobre a cova será, enfim, sua “roça”, onde o defunto poderá trabalhar para si e não mais “a meias, como antes em terra alheia”, e nem como escravo no eito (latifúndio que emprega trabalho escravo ou semi-escravo). Depois de anos de trabalho duro e miseravelmente remunerado o defunto tem seu caixão como “o brim do Nordeste”, que o “veste, como nunca em vida”. E essa terra de latifúndio que o cobre é a mesma que já “bebeu” seu “suor vendido”, sua juventude, sua felicidade e seu tempo de convivência conjugal, familiar e social.

Esta terra rica da Zona da Mata está tomada pelos grandes proprietários. E tal é o domínio que eles exercem sobre essa região que nem trabalhadores, nem os próprio rios, lhes são capazes de resistir. Na parte nona do poema Severino entende “por que em paragens tão ricas o rio não corta em poços como ele faz na Caatinga”. Ele “vive a fugir dos remansos” porque é desviado pelos latifundiários para a irrigação de suas plantações. E nem mesmo nessa terra fértil os trabalhadores recebem uma parte maior por seu “suor vendido”, já que estas são terras de “grande cobiça”. O protagonista conclui que, se deseja defender sua vida da “tal velhice que chega antes de se inteirar trinta”, neste local não deve se estabelecer. “O melhor é apressar o fim desta ladainha, fim do rosário de nomes” de cidades e paragens “que a linha do rio enfia”. Sua esperança de vida melhor o impele em direção ao Recife onde acredita vai encontrar a solução para sua vida miserável, assim como a religiosidade de seu povo acredita que a reza comunitária do rosário, se não melhora sua vida, ao menos impede que se torne insuportável.

Na parte dez, o retirante chega a Recife. Cansado, procura descansar e ouve a conversa entre dois coveiros. Falam sobre o trabalho no cemitério. Para os ricos o cemitério reserva “as belas avenidas”, “o bairro da gente fina”, ou seja, “o bairro dos usineiros, dos políticos, dos banqueiros” e também “dos industriais, dos membros das associações patronais”. Claro que se o defunto, ou melhor, o que herda o dinheiro que o defunto não conseguiu levar para o além, não puder pagar para estar enterrado em tal local, pode escolher o “bairro dos funcionários, inclusive extranumerários, contratados e mensalistas”, tais como “os jornalistas, os escritores, os artistas” e também “os bancários”, os “comerciários, os lojistas, os boticários” e aqueles que, apesar de terem profissão liberal, “não se liberaram jamais” da submissão ao poder econômico que a elite exerce sobre estes de classe média. Os “bairros ricos” do cemitério são melhor cuidados e apresentam menos trabalho aos coveiros. As classes alta e média conseguem melhor assistência de saúde, melhor qualidade de vida, melhor acesso a educação de boa qualidade e tudo isso lhes permite mais que uma vida melhor: lhes permite estarem enterrados em locais mais bem cuidados e dignos. Mas o desumano não está no tratamento que é destinado a quem tem como pagar, mas no tratamento que é negado aos que, apesar de uma vida de trabalho duro, não têm como pagar por uma cova digna.

Neste momento severino nota que, assim como para todos os severinos, o quinhão do cemitério que lhe caberá será aquele de várzea onde “o rio afoga na preamar e sufoca na baixa-mar”. Severino é “gente sem instituto, gente de braços devolutos” e de “enterros gratuitos”. Ele é “gente do Sertão que desce para o litoral” e “fica vivendo no meio da lama, comendo os siris que apanha”. Para o coveiro, as pessoas que, como Severino, estão destinadas a uma vida de miséria numa favela dos arredores do Recife deveriam ser sacudidos “de qualquer ponte dentro do rio e da morte”. Este coveiro, trabalhador assalariado que não tem consciência de sua própria situação de alienação e de exploração, que acha natural uns terem mais que outros e uns serem tratados com mais dignidade que outros, que não entende a razão que leva pessoas como Severino a sair do Sertão para o Recife, que acredita que alguém possa morar em uma favela cheia de lodo por opção pessoal ou por preguiça, é um legítimo representante da cultura dominante que a burguesia impõe às classes dominadas como se fosse verdadeira e universal. Agora Severino percebe, nas palavras do coveiro, que “vindo por essas caatingas, vargens, ai esta o seu erro: vem é seguindo seu próprio enterro”.

Severino fica desiludido. Na décima-primeira parte do poema, Severino percebe que não tem como fugir de sua “vida severina” e que o seu destino é forte demais para que possa lutar contra. Não tem como evitar a morte e, quando essa chegar, evitar sua indigência. É fato que ele sabia que depois do “rosário de cidades e de vilas” que caminhou “não seria diferente a vida de cada dia”, mas teve a esperança de “que ao menos aumentaria na quartilha, a água pouca, dentro da cuia, a farinha, o algodãozinho da camisa”, ou o seu “aluguel com a vida”. É o desejo da grande maioria dos brasileiros: uma vida que, se não rica, ao menos seja digna, com comida e saúde suficiente. Mas, se isso é muito menos do que qualquer ser humano merece, nem isso lhe é garantido por uma sociedade que privilegia quem já tem muito e marginaliza quem já está a sua margem e tem nada. Agora Severino acredita que seu enterro ele seguia, que não lhe resta mais para onde se retirar, e decide apressar a morte: pretende de jogar da ponte de um dos cais do Capibaribe.

Na décima-segunda parte, Severino trava diálogo com José, o carpinteiro. Esse diálogo muda os ânimos de Severino, mas demonstra porque Morte e Vida Severina é um auto de Natal. A relação entre este carpinteiro (“Seu José, mestre carpina”, vindo de “Nazaré da Mata”) e São José, pai de Jesus, é clara. Nesta parte do poema começa algo que poderíamos comparar com a encenação de um presépio. Se de um lado o tema de Natal está presente porque assim foi encomendado ao autor, por outro ele carrega uma significação religiosa própria da cultura no Sertão nordestino. No diálogo, Mestre carpina diz para Severino que embora a miséria seja “mar largo”, “para cruzá-la vale bem qualquer esforço”. José diz que o “mar” da miséria “precisa ser combatido, sempre, de qualquer maneira, porque senão ele alaga e devasta a terra inteira”. Mas se cada severino tem como sina lutar constantemente contra seu destino de pobreza, se contentando com o simples fato da miséria não aumentar, não seria tal atitude um conformismo disfarçado de luta? Nesse sentido Severino questiona: “há muito no lamaçal apodrece a sua vida? e a vida que tem vivido foi sempre comprada à vista?” e tem como resposta “o que compro a retalho é, de qualquer forma, vida”. Com efeito a religiosidade católica popular no Brasil costuma ensinar essa atitude de conformismo de José, onde nos submetemos a esta “vida severina” pelo simples motivo de ser vida.

O diálogo de José e Severino é interrompido na parte treze por uma mulher que anuncia o nascimento de uma criança, o filho de José. A ironia: enquanto Severino pensa em saltar para a morte, o filho de José “saltou para dentro da vida”.

Parte quatorze. Os vizinhos, amigos e duas ciganas visitam o mocambo para ver o menino. Ao modo dos cânticos religiosos de Natal, os presentes celebram o nascimento do menino, que consideram em algo especial, já que coisas boas aconteceram na favela. Porque a maré permaneceu alta “a lama ficou coberta e o mau-cheiro não voou”. O céu ficou estrelado e os mocambos se tornaram lugares mais aconchegantes, modelares, tal como gostam de descrever alguns acadêmicos (uma crítica do autor a um sociólogo de sua época do qual discordava). Mas se tudo isso se deve ao nascimento dessa criança, ou se ao menos essas são as impressões de quem se alegra com o fato, o que esperar de seu futuro, de seu destino? Se compararmos com a vida de Jesus (e a inspiração do texto de João Cabral de Melo Neto autoriza a fazê-lo), perceberemos que Jesus nasce pobre, vive pobre e, ao pregar uma doutrina que ameaça quem detém o poder em seu país, morre de forma cruel e infame. Este é o destino de todos os severinos?

Na parte quinze, em outro paralelo com o presépio, chegam visitantes trazendo presentes para o recém-nascido. Nenhum deles tem mais a oferecer que aquilo que faz parte de seu próprio dia a dia e de sua subsistência. São caranguejos dos mangues, o leite materno de uma vizinha, o jornal que serve de cobertor, frutas, ostras do cais de Aurora e outros. Numa situação de miséria como aquela os moradores da comunidade percebem a necessidade da colaboração.

Duas mulheres presentes pedem a atenção de todos na parte dezesseis do poema. Querem desvelar para os pais e seus amigos o destino que aguarda pelo menino que viera à luz. Se na parte quatorze se levanta a dúvida de qual seria o destino deste menino, agora as que se apresentam como “ciganas do Egito” lho vão revelar. A primeira cigana vaticina: engatinhará “por aí, com aratus” e “aprenderá a caminhar na lama”; Aprenderá a caçar “catando pelo chão tudo o que cheira a comida” e revirando o lixo; Quando adulto vestirá roupas sempre escuras de lama, pois será um pescador de siris e camarão. Mas o vaticínio da segunda cigana acrescenta mais um elemento ao destino desta criança severina. Poderá também ter uma vida com mais “planura” sendo um “homem de ofício”. Para se libertar dos mangues poderá vir a trabalhar numa fábrica, onde suas vestes permanecerão negas, não de lama, mas de “graxa de sua máquina”. Em troca de um salário baixo mas relativamente estável se submeterá à exploração do industrial e suas máquinas. Adivinhação ou destino já anunciado pela situação social em que o menino nasce?

A penúltima parte do poema se oferece à força e à luta que os severinos travam contra sua sina e a morte. Aquela criança prematura e guenza teima em vencer a morte que tão cedo lhe ameaça. Desnutrido, seu coração, “a máquina de homem”, continua a bater “como um sim numa sala negativa”. Sua vida talvez repita o destino de cada severino, essa miséria que nunca acaba, como se fosse “a última onda que o fim do mar sempre adia”. Entretanto, se o nascimento de uma criança pode ser motivo de preocupação para pais que vivem em miséria, certamente é também motivo de renovadas esperanças. Um filho é a chance de uma nova história, de um novo destino. Se o destino de um morador de mocambo repetiu a sina de cada severino retirante que antes tentou uma nova vida no Recife, o desta criança, nascida na cidade, poderá ser um pouco melhor pelo acesso que poderá ter à educação que, se não é suficiente, ao menos será melhor que a que os pais obtiveram no Sertão. O nascimento da criança é “belo porque com o novo todo o velho contagia”, “porque corrompe com sangue novo a anemia” e “infecciona a miséria com vida nova e sadia”. Como no Natal de Jesus, presente no imaginário da tradição popular, a criança que nasce na pobreza pode carregar consigo a força de começar um caminho novo e mudar o destino que marcou seus pais.

O poema termina com o carpina indo ao encontro de Severino, que não tomou parte de nada do que ocorreu no mocambo. Vem para lhe contar porque agora pensa que o protagonista não deveria “saltar fora da ponte e da vida”: para ele, “é difícil defender” a vida, “ainda mais quando ela é esta que vê, severina”, mas “não há melhor resposta que o espetáculo da vida”. Se na parte doze fica a dúvida sobre a atitude de José carpina, se é uma incitação a lutar contra a miséria ou se é um conformismo diante do aparentemente inevitável destino dos moradores de mocambo no Recife, agora fica claro o que move o otimismo do carpinteiro: é a vontade de viver, a mesma que moveu o retirante do Sertão para o litoral. E só essa vontade de viver é capaz de mover cada severino a desejar e lutar por uma vida melhor para si e para seus semelhantes. Cabe a cada brasileiro a tarefa de buscar e realizar soluções que permitam que o nome “severino”, usado de empréstimo pelo grande João Cabral de Melo Neto, seja devolvido ao nordestino como nome próprio e nunca mais precise ser usado como sinônimo de miséria.

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Morte e Vida Severina
Morte e Vida Severina: Esperança, Destino e Pobreza

quinta-feira, 25 de junho de 2009

9ª Parada do Orgulho LGBT de Campinas

Depois de levar 100 mil pessoas às ruas da cidade no ano passado para comemorar o Dia do Orgulho LGBT, a Parada do Orgulho de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais de Campinas volta a sair às ruas no dia 28 de junho de 2009 – consolidando - se como a maior manifestação de rua da cidade.

O tema deste ano aborda a discriminação que atinge as diferentes faixas etárias, de crianças e adolescentes a adultos e idosos. “Direitos não têm idade nem sexualidade” faz referência direta à necessidade de respeitarmos os Direitos Sexuais de qualquer pessoa, em qualquer estágio de sua vida. E, mais uma vez, a Parada de Campinas convoca a população a apoiar o PLC 122/06, que tramita no Senado, e torna crime hediondo a discriminação por orientação sexual e identidade de gênero.

STONEWALL 40 ANOS

Em 2009, lésbicas, gays, travestis, transexuais e bissexuais de Campinas terão mais motivos para comemorar, pois o dia da Parada cai exatamente no dia 28 de junho, Dia do Orgulho LGBT, uma das três datas oficiais no calendário municipal que valorizam a diversidade sexual – as outras duas sendo o dia 17 de maio, Dia Municipal de Luta Contra a Homofobia, e o dia 29 de Agosto, Dia Municipal da Visibilidade Lésbica.

Nesse dia 28 de junho, há exatos 40 anos, em um pequeno bar de Nova York chamado Stonewall, gays, lésbicas e travestis se rebelaram contra o tratamento agressivo que recebiam da polícia, que sempre fazia batidas no local. Pela primeira vez houve um enfrentamento real, que durou três dias e incendiou o boêmio bairro de Greenwich Village. Um ano depois, na mesma data, três das maiores cidades americanas realizaram marchas de protesto contra o preconceito e a discriminação e pedindo por mais respeito e visibilidade. Eram as primeiras Paradas do Orgulho LGBT.

Desde então, em todo o mundo, gays, lésbicas, travestis, transexuais e bissexuais celebram esse importante dia, que foi o inicio do movimento ativista homossexual. Campinas não ignorou esse clamor, instituindo através da Lei no. 10.182/99, o dia 28 de junho como o Dia Municipal do Orgulho Homossexual.

Nos últimos 10 anos, novos grupos organizados têm surgido em diversas cidades do Brasil, o movimento LGBT nacional tem se estruturado e influenciado ativamente a proposição de políticas públicas e decisões judiciais que garantam a igualdade de direitos a população LGBT, e conquistado a adesão de parlamentares que adotam as bandeiras de luta pela união civil, criminalização da homofobia, direito a adoção, reconhecimento das identidades de gêneros, entre outras.

Hoje o Brasil conta com mais de 80 Paradas em todo o território nacional. Em 2008, mais de 3 milhões de pessoas, tomaram a Avenida Paulista, Rua da Consolação, Praça da República e arredores, consolidando- a como a maior manifestação social do planeta.

MÊS DA DIVERSIDADE

A 9ª Parada do Orgulho LGBT é apenas o clímax do 7º Mês da Diversidade que novamente se estende por todo o mês de junho.

Este ano, o Mês começou no dia 06, com a 4ª edição do Prêmio 100% Guerreiras, homenagem prestada pelas/os Travestis e Transexuais a entidades ou personalidades que contribuíram para a luta pelo reconhecimento da cidadania dessa população.

No dia seguinte, domingo, dia 7 de junho, aconteceu a já tradicional abertura do Mês, no Parque do Taquaral, com a Gincana da Diversidade. Apresentado por Piscila Drag, a Gincana levou dezenas de pessoas ao parque, entre homo e heterossexuais.

Dia 14 de junho, a cidade de Campinas saiu em caravana para a Parada do Orgulho LGBT de São Paulo, que se confirmou como a maior Parada do mundo, em mais de 10 ônibus.

No dia 18, promovido pelo Sindicato dos Jornalistas em Campinas e a Comissão Organizadora da Parada, ocorreu o debate "Mídia e LGBT - o visível e o invísivel" onde os jornalistas Deco Ribeiro, Eduardo Grgori e Agildo Nogueira Jr. discutiram com uma platéia formada principalmente por jovens o tratamento dado pela grande mídia e pela mídia GLS às questões LGBT.

Dia 26, sexta-feira, a juventude LGBT invade a Praça Bento Quirino, no centro da cidade, para uma festa com a sua cara! É a BIG JUICE Party que vai realizar uma matinê com DJ e shows de drags para a garotada que ainda não pode entrar numa boate.

No sábado, 27, dois eventos: as mulheres lésbicas e bissexuais ocuparão novamente a praça Bento Quirino, na Manifestação Sáfica, um sarau a céu aberto, regado a poesia, música, desfile e danças, explicitando publicamente o direito constitucional da expressão da afetividade. E também será a vez da 5ª edição do Festival de Novos Talentos, da Vila Pe. Anchieta, organizado pelos moradores do bairro. Com apresentações artísticas de Drag Queens e Transformistas, esse evento promove a visibilidade positiva dessas artistas e de toda a comunidade LGBT junto à comunidade.

E finalmente no dia 28, domingo, a partir das 13h, ocorre a concentração, no Largo da Pará, da 9ª Parada do Orgulho de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais de Campinas, que voltará ao seu trajeto tradiconal este ano, com encerramento no Largo do Rosário.

PROGRAMAÇÃO:

26/06 - BIG JUICE Party - A Matinê LGBTenn do E-Jovem
Local: Praça Bento Quirino (Praça do Sucão)
Horário: 19 horas

27/06 - V Manifestação Sáfica - Evento de Mulheres Lésbicas e Bissexuais
Shows, Performances DRAG KINGS, Dança e Música
Local: Praça Bento Quirino (Praça do Sucão)
Horário: 19 horas

27/06 - Concurso de Novos Talentos da Vila Pe. Anchieta
Local: Teatro da Vila Pe. Anchieta
Horário: 19 horas

28/06 - IX Parada do Orgulho LGBT de Campinas
Concentração: Largo do Pará (Av. Francisco Glicério x Av. Aquidaban)
Horário: 13 horas

TRAJETO DA PARADA: Início no LARGO DO PARÁ, descendo na contra-mão da Francisco Glicério até Av. Moraes Sales, virando à direita até a Irmã Serafina, virando à esquerda até a Av. Benjamim Constant, virando à esquerda até a Av. Francisco Glicério e virando à esquerda, na mão dos carros, até o LARGO DO ROSÁRIO, onde acontece o Grande Show de Encerramento, por volta das 20 horas.

INFORMAÇÕES:
Telefone - 19 33073764/ Lohren Beauty
Telefone - 19 81125306/ Maria Amélia

quarta-feira, 24 de junho de 2009

Homofobia Global

A ABGLT (Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais), associação de congrega ONGs do Brasil inteiro que luta pela causa gay, enviou uma carta aberta ao apresentador Fausto Silva do Domingão do Faustão. O apresentador tem o maior faturamento da Rede Globo e os seus ganhos mensais estão na casa dos 5 milhões de reais. A carta, que questiona os comentários homofobicos do apresentador, foi enviada por conta da falta de respostas dos emails enviados. Na nota, Toni Reis, Presidente da ABGLT, destaca alguns comentários do comunicador, são eles:

  • 10/05/2009 – você referiu um "suposto" homossexual pelo termo GAZELA
  • 17/05/2009 – você refere-se a um "suposto" homossexual pelo termo BOIOLA
  • 17/06/2009 - diz que um “suposto" homossexual MORDE A FRONHA
  • 17/06/2009 - No programa leva ao ar o comentário do participante Leandro Hassun: ISTO É UMA BICHONA!
Toni Reis convida Fausto Silva a se unir a campanha “Não Homofobia”, que tem por objetivo, colher assinaturas da sociedade civil, a fim de pressionar o senado para a aprovação imediata ao PLC 122/2006, lei que criminalizará a homofobia no âmbito federal, além de citar alguns dados referentes à homofobia no cenário mundial, são eles:
  • Em sete países há pena de morte para os homossexuais e 80 países criminalizam os atos homossexuais.
  • No Irã, gays são enforcados em praça pública.
  • Em 2004, a UNESCO divulgou que 40% dos adolescentes não gostariam de estudar com um gay, uma lésbica ou uma pessoa trans e exemplificou, citando um caso do menino Iago, um adolescente de 14 anos que se suicidou porque era discriminado na escola. Sua história foi abordada no programa “Profissão Reporte”, da própria Rede Globo.
  • Em 14/06, dia que a cidade de São Paulo estava comemorando o “Orgulho Gay”, 22 pessoas foram feridas com uma bomba arremessada de um prédio, e na mesma região do atentando, um gay de 35 anos foi espancado por skinreads, sofreu traumatismo craniano e morreu.
A ABGLT também cita o Código de Ética dos Jornalistas e o Conselho Federal de Psicologia que determinam que seus profissionais respeitem a orientação sexual e a identidade de gênero de todas as pessoas. Informação que o Fausto Silva conhece bem, pois o mesmo é formado em Comunicação Social.

Esperamos que o Fausto Silva e outros formadores de opinião do nosso homofóbico país tenham mais responsabilidade com o conteúdo repassado para o seu público e que eles aprendam a lição deixada por Nelson Mandela que diz que “ninguém nasce odiando outra pessoa pela cor de sua pele, ou por sua origem, ou sua religião. Para odiar, as pessoas precisam aprender, e se elas aprendem a odiar, podem ser ensinadas a amar, pois o amor chega mais naturalmente ao coração humano do que o seu oposto. A bondade humana é uma chama que pode ser oculta, jamais extinta.”

terça-feira, 23 de junho de 2009

O Estranho Caráter Fetichista do Mundo Capitalista

Não me apego a bens matérias, aliás, nem posso, pois não os tenho. Não sou tão pobre quanto à maioria e nem tão rico quanto gostaria, na verdade, tenho tudo o que preciso e menos, muito menos do que gostaria. Esse é o mundo capitalista criticado por Karl Marx. Confesso: se o comunismo idealizado por Marx tivesse dado certo, o mundo seria muito melhor. Mas ele é utópico, não consigo enxergar uma sociedade civilizada onde todos são “iguais”, sempre haverá uns querendo se sobressair perante os outros, esse comportamento está na índole do ser humano.

Vivemos num mundo de fetiche, onde somos aquilo que possuímos/consumimos. Eu sou o carro que dirijo as roupas que visto e os meios sociais que freqüento. Minhas ideologias, meus reais valores pouco importa para uma sociedade imagética que se projeta no comportamento consumista de cada individuo. Desde a infância aprendemos a sermos “pequenos capitalistazinhos”, antes de qualquer outra expressão, aprendemos a palavra “dá”. O instinto de possuir e dominar estão intrínsecos no ser humano: é um instinto animal maior do que qualquer outro que possuímos. Isso fica bem claro quando vemos na sociedade esposas matando seus maridos a facadas e filhos matando seus pais a pauladas.

Ontem, vendi o meu carro. Era um Peugeot 206. Muitas lembranças irão me remeter a ele, foram tantas aventuras. Certa vez, estava namorando no Parque do Ibirapuera (segundo o DataPassageiro, 10 entre 10 gays já fizeram isso), estávamos num “vuco-vuco” legal, até que ouvimos alguém bater no vidro, nos arrumamos e depois de aproximadamente 2 minutos saímos. Falamos ao guarda que estávamos apenas conversando, ele olhou para nos e com todo o cinismo existente no mundo disse: “E eu, sou a Branca de Neve”. Achei engraçado e segurei o riso, depois de algumas advertências verbais, ele mandou eu ir embora.

Também vivi momentos dramáticos: certa vez, estava voltando de madrugada para casa. Estava cansando e morrendo de sono quando vi pelo retrovisor um carro colado ao meu, acelerei e o outro carro também acelerou a ponto de encostar no meu pára-choque. Mudei de faixa e ele tentou me fechar, acelerei ainda mais e a perseguição começou. Novamente ele tentou me fechar, dessa vez acertando o meu pára-choque dianteiro e eu pude ver os dois marginais que estavam conduzindo o carro, fiquei com medo, pois o meu carro veio com um defeito de fábrica que ainda não havia sido solucionado – o carro afogava e não ligava nas primeiras tentativas, às vezes eu ficava horas tentando -, fiquei com medo de dar o tal defeito nesse momento critico. A perseguição durou uns 5 minutos, foi na Av. Anhaia Melo, na altura da Salim Farah Maluf e persistiu até um Distrito Policial que ficava na avenida. Joguei o carro com tudo na porta do DP e os marginais seguiram adiante. Naquele momento, não temi por levarem o meu carro e sim por levarem a minha vida. Depois desse episódio, minha família mudou-se de São Paulo para Arujá.

Ontem, quando entreguei as chaves e o documento do carro para o seu novo dono, muitas lembranças me vieram à tona, achei tudo isso muito estranho, mas facilmente explicável por Karl Marx ao dizer que “esse caráter fetichista do mundo das mercadorias provém do caráter social peculiar do trabalho que produz mercadorias”, ou seja, nos somos o que consumimos. e não o que fazemos e/ou pensamos. Acabamos valorando os nossos sentimentos de acordo com o valor capital e desprezando o que não tem um valor tangível, que na verdade é o que temos de mais valioso. O carro tinha um valor sentimental, mas tudo que é matéria perece, tem o seu fim para dar espaço ao novo, a outros fetiches capitalistas. Comprei outro carro, um Fiesta, mas sei que ele nunca ocupará o espaço deixado pelo 206.

segunda-feira, 22 de junho de 2009

Morte e Vida Severina

Morte e Vida Severina – auto de Natal pernambucano é um dos textos mais importantes de João Cabral de Melo Neto e se insere num conjunto de poemas dramáticos que discorrem sobre a vida do retirante do Sertão pernambucano. Como o subtítulo indica, é um auto de Natal feito a pedido de Maria Clara Machado (considerada uma das maiores autoras de teatro infantil brasileiro), então diretora do grupo O Tablado no Rio de Janeiro. O auto foi escrito entre 1954 e 1955, mas a montagem teatral que consagrou o texto no Brasil foi a que estreou em 11 de Setembro de 1965 no auditório Tibiriçá da PUC-SP – TUCA – que, ao contrário dos temores do autor, foi grande sucesso de público e crítica.

Morte e Vida Severina, poema construído com versos heptassilábicos (medida velha, redondilho maior), se integra com outras obras que abordam sempre a mesma realidade do Sertão pernambucano e sua gente ao longo do rio Capibaribe, cada obra com um diferente ponto de vista. Assim, por exemplo, enquanto este auto conta a história do retirante que se desloca do Sertão seguindo o rio, temos também o poema O Rio, que conta a história na perspectiva do rio Capibaribe.

Estruturalmente o poema está dividido em dezoito partes e dois grandes momentos. Até a parte nove Severino, o protagonista, se desloca para o Recife, seguindo sempre o rio Capibaribe. O que move o retirante é a esperança de defender sua “vida da tal velhice que chega antes de se inteirar trinta”. A esperança é modesta e poucos anos menos sofridos que se acrescentassem bastariam. Em seu trajeto o retirante se defronta com a seca do rio e tenta se guiar por leves marcas do leito do rio deixadas no chão crestado pelo sol. O fino rio que atravessa várias vilas e arruados, tal como o fio que atravessa as contas de um terço, leva o retirante se sentir como que a “rezar tal rosário até o mar onde termina”. No segundo momento do auto, a partir da parte dez, o retirante está no Recife (em uma favela ribeirinha dos arredores da cidade) e percebe que mesmo ali não há para ele outra vida, a não ser aquela que conheceu durante todo o percurso, a vida severina. No poema está constantemente presente os pólos opostos definidos no título, que em muitos momentos, como numa moeda, parecem ser duas faces da mesma realidade: a morte e a vida. Mas a vida que o retirante conhece no serão e encontra no Recife nunca é mais que a “vida severina”, “aquela vida que é menos vivida que defendida” e que “é ainda mais severina para o homem que retira”.

Em Morte e Vida Severina encontramos as preocupações sociais que já haviam sido levantadas no regionalismo da década de 1930, por autores como José Américo de Almeida, Rachel de Queiroz e Graciliano Ramos, mas a novidade do texto de João Cabral de Melo Neto estava forma literária escolhida. Aqueles autores escreviam fazendo uso da língua culta e de e narrativas refinadas que muitas vezes contrastavam com a linguagem popular das personagens. No auto de João Cabral de Melo Neto o narrador é o próprio retirante, que descreve sua experiência em sua própria linguagem e fazendo uso de uma forma literária que se assemelha ao cordel, tipo de obra típico do Nordeste.

Leia Também:

Morte e Vida Severina: Análise da História Numa Perspectiva Social
Morte e Vida Severina: Esperança, Destino e Pobreza

domingo, 21 de junho de 2009

Manifestação Contra a Homofobia Pós-Parada

Ontem, 20/06, aconteceu na Rua Doutor Vieira de Carvalho uma manifestação cobrando justiça nos casos de violência pós-parada. Junto com o Douglas, participei do protesto. Houve várias menções ao caso do Marcelo Campos Barros, um cozinheiro de 35 anos, agredido brutalmente após a Parada e vindo a falecer na Santa Casa de São Paulo. Outro caso evidenciado e que levou a idealização do protesto, foi a bomba arremessada de um prédio na Av. Dr. Vieira de Carvalho, que feriu cerca de 30 pessoas. A manifestação começou no início da avenida, em frente o Bar Vermont e terminou em frente ao prédio de onde a bomba foi arremessada.

Na manifestação, estavam presentes: Julian Rodrigues (que fez as considerações inicias), Paulo Mariante, Ítalo Cardoso, Luiz Antônio Guimarães Marrey (Secretário da Justiça do Estado de São Paulo), Miriam Martinho, Gustavo Miranda, Thiago Magalhães, Marcos Fernandes, Marcelo Hailler e William Magalhães (A Capa), Regina Faccini, João Marinho, Ricardo Aguieiras, Marcos Costa (do Blog Carioca Virtual) e mais algumas centenas de militantes independentes gritando por "Homofobia, basta! Justiça já!

A apuração da morte de Marcelo Barros passou a ser investigada pela Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância (Decradi), sendo reconhecida pela Policia Militar a homofobia intrínseca no crime. A principal linha de investigação é que grupos neonazistas de white powers estejam envolvidos, intolerantes a gays, negros, nordestinos e judeus. Foi justamente um grupo com essas semelhanças que foi visto por testemunhas perto de uma estação do metrô após o crime. A polícia vai levantar as ligações feitas do celular roubado de Barros e por meio dessas ligações, pretende-se chegar aos criminosos.

Estava em dúvida se ia ou não na 4ª Parada Gay de Guarulhos, mas o evento de ontem me vez definir essa questão e resolvi ir. Fui na 2ª e 3ª Parada de Guarulhos e fiquei muito decepcionado com a 3ª, quando os militantes do Movimento Mel levaram a multidão que protestavam nas ruas por mais dignidade para o cidadão homossexual para frente de um ginásio e alguns manifestantes foram surpreendidos com a notícia que a festa continuava dentro do ginásio e os interessados a participarem deveriam pagar por um ingresso. O Movimento Mel estava presente na manifestação de ontem, cobrando por justiça nos casos de homofobia. Conclui que esse erro do passado, reconhecido até mesmo pelo Movimento Mel, não pode influenciar na luta do Movimento Homossexual Brasileiro.

sábado, 20 de junho de 2009

Homofobia, Basta! Justiça, Já!

A manifestação que será realizada na Av. Dr. Vieira de Carvalho, hoje, dia 20 de junho de 2009, expressa a indignação do movimento, da comunidade de lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais (LGBT) e da população solidária contra as diversas manifestações de intolerância e de agressão física ocorridas, justamente, no dia da 13ª. Parada do Orgulho LGBT de São Paulo, dia dedicado à luta por direitos para LGBT.

Iremos protestar contra os atos bárbaros, ocorridos durante e depois da Parada, envolvendo vários espancamentos e roubos. Um destes covardes ataques causou a morte de Marcelo Campos Barros, um cozinheiro de 35 anos, agredido brutalmente. Outro caso absurdo de agressão homofóbica foi a bomba arremessada de um prédio na Av. Dr. Vieira de Carvalho, que feriu cerca de 30 pessoas.

Basta de homofobia e assassinatos!

Exigimos providências dos órgãos públicos, na apuração imediata e rigorosa dos fatos, permitindo a prisão e julgamento dos culpados. Estamos cobrando um maior engajamento e empenho da Secretaria de Segurança Pública, sobretudo aumentando o policiamento no dia da Parada e orientando corretamente os agentes de segurança. Há vários relatos, inclusive casos documentados, de omissão do policiamento, que deixou de efetuar prisões em flagrantes de agressores.

Vivemos, hoje, num país marcado pela homofobia e numa sociedade que não tem pudores em expressar seu preconceito contra LGBT. Diante de fatos, não há argumentos. Quantas agressões ainda acontecerão para que o combate à homofobia seja uma prioridade do Estado brasileiro?

Muita Violência e Pouca Denúncia

Em pesquisa realizada na Parada do Orgulho LGBT de São Paulo de 2006 pela APOGLBT e pela Secretaria Especial de Direitos Humanos (SEDH) da Presidência da República, 59% relataram uma ou mais situações de agressão ao longo da vida. A maior parte dos casos de agressão relatados (60%) ocorreu em locais públicos.

Outro ponto a destacar nesse estudo é o percentual de participantes que declarou ter sido mal atendido em delegacias por policiais (18%) devido à sua orientação sexual ou identidade de gênero. Embora a incidência de agressões motivada pela sexualidade seja alta, apenas 11% dos agredidos chegaram a procurar a polícia.

Reivindicações: Queremos Justiça!

- Rápida e rigorosa investigação e punição dos autores dos crimes;

- Aprovação do PLC 122/2006, que criminaliza a homofobia e tramita no Senado;

- Capacitação de policiais para atuar corretamente na segurança da Parada, no atendimento de vítimas de violência e na orientação adequada de denúncias.

Assinam este manifesto: